Marcos Barbosa
O único caminho possível para uma escola de arte
constrói-se através da arte. Sempre que pesa sobre nossas cabeças a ameaça dos
que só reconhecem como conhecimento superior as ciências, as tecnologias e as
humanidades, é preciso responder justamente com arte. Aceitar a arte,
permanecer na arte. Sem isso não somos ninguém, não nos resta nada. Quando a
Escola de Teatro se prepara para escolher nova direção, fico tranquilo ao
perceber que uma das candidatas é artista. Artista, sim, construtora de sonhos
e de afetos. Alvenaria e placas comemorativas só servem para levantar e ornar
paredes. Emparedada, nenhuma escola de arte sobrevive. Emparedada, uma escola
de arte apodrece, se esquece do horizonte para além de seus portões (e dos
quintais dos canalhas). Apoio Hebe Alves porque sei de seu caráter. Apoio Hebe
Alves porque ela já me encantou, mais de uma vez, como artista. Apoio Hebe
Alves porque sei que quando, em uma escola de arte, falta a arte, o sonho e o
afeto, tudo o que sobra é poeira, barulho e discurso vazio. E já nos
emparedamos por tempo demais.
* Professor de Dramaturgia e
Teoria do Teatro da Escola de Teatro da UFBA, residente em 2002 do Royal Court
Theatre, de Londres, como bolsista do British Council. Recebeu o Prêmio Carlos Carvalho (Porto Alegre,
2005), por “Avental Todo Sujo de Ovo”; o Prêmio Braskem de Teatro (Salvador,
2004), por “Auto de Angicos” e o Prêmio Paulo Pontes (João Pessoa, 2001), por
“Minha Irmã”.
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